Notícia Falsa #1

Notícia Falsa é um projeto da Edições Membrana aberto a colaboradores com a proposta de produzir cartazes e publicações, onde imagens e textos coexistem mas são independentes entre si.

Alexandre Barbosa de Souza e Tiago Santinho foram convidados a escrever na primeira edição deste projeto, com o propósito de desvelar, por meio de atritos e desgastes, possíveis intrusões e dissimulações informacionais envolvendo o cotidiano.

As imagens da publicação e dos cartazes da edição NF#1 são vistas fotográficas que remetem à ideia de uma dissimulação, criando, assim, um espaço imaginário topográfico gerado por sistemas de varreduras informacionais.

O lançamento dos cartazes e da publicação Notícia Falsa #1 aconteceu na Plana Festival Internacional de Publicações de São Paulo, edição "Fim do Mundo", Pavilhão da Bienal, São Paulo, SP, 17-19 de março, 2017.
Notícia Falsa #1
Marina Oruê, Douglas Garcia

︎︎︎cartazes
(NF#1) 29 x 42 cm
impresso em risografia black
tiragem 90 exemplares

︎︎︎publicação
13,7 x 19 cm, 12 páginas
impresso em risografia black
edição de 30 exemplares

fotografia, Douglas Garcia
textos, Tiago Santinho, Thomas Browne
poema, Alexandre Barbosa de Souza
design gráfico, Marina Oruê
impressão, Edições Aurora/Publication Studio SP

São Paulo, SP, Março de 2017
Edições Membrana

︎︎︎vídeo
ensaio digital, a partir de textos
da publicação no processing






NF#1  cartaz I

Democracia seria o ingovernável (o efêmero): "Hoje, 'democracia representativa' pode parecer um pleonasmo, mas foi primeiro um oximoro." Rancière deslocado, sim. A doxa, opinião pública/comum, é o inverso da verdade. Por isso tal irracionalidade é tão sedutora...
Uma democracia sem informações falsas não se sustentaria. Diferente da imposição de mitos e mentiras enquanto verdade em caixa alta em regimes totalitários onde não se pode supor contradições... Morreríamos de tédio se não intuíssemos que todas notícias são dúbias... Daí nos fodemos felizes... Apaixonados pela crise na representação...
— Tiago Santinho, 2017



NF#1  cartaz II

Quando o fraudulento Bush Khan
Rasgou a Carta das Nações
Declarando-se Dono do Mundo
Senhor dos Homens
Na mesma noite sonhei que era Joana d’Arc
Dos Matadouros
Sendo levado à fogueira
Sobrevivendo a 451 Fahrenheit
Era a massa parda baleada da humanidade
Meu único bem eram calos, cicatrizes
Então vieram os tecelões da Silésia
Com sua bandeira de trapos em chamas
A liga das barricadas traídas
Leal apenas aos peregrinos famintos
E à memória dos mártires meninos

— Alexandre Barbosa de Souza



NF#1  cartaz III

A opinião comum sobre a Avestruz, Struthiocamelus ou Pardal-camelo, considera que ela digere ferro. (...) a imagem comum também confirma isso, geralmente descrevendo o animal com uma ferradura na boca.
(...) Alguns no entanto refutaram isso experimentalmente, como Albertus Magnus; e mais simplesmente Ulysses Aldrovandus, que disse o seguinte: Ego ferri frustra devorare, dum Tridenti essem, observavi, sed quæ incocta rursus excerneret, isto é, quando comecei em Trento, observei a Avestruz engolir ferro, mas expelir novamente sem digerir.
(...) Assim também cães comem grama, que não digerem: assim camelos tornam a água potável batendo as patas na lama: assim cavalos mastigam paredes, pombos adoram pedras de sal. Ratos roem ferro, e Aristóteles disse que os elefantes engoliam pedras.
E assim pode ser também que a avestruz engula ferro; não como alimento, mas como se observa entre outros animais.
— Thomas Browne, "Da Avestruz", 1672